sábado, dezembro 10, 2005

SITIO PASSARIM


Quem conhece o Sitio Passarim tem certeza que Roberto Moita teve uma conversa com Deus. Fica claro que ambos fizeram um acordo. Um entrou com a natureza, outro com seu amor por ela e extrema sensibilidade. Foi um trabalho em dupla. A beleza fantástica do lugar não foi alterada e nem invadida pelo projeto. Muito pelo contrário, estão entremeados um ao outro, em simbiose perfeita. E desse respeito, dessa reverência, nasceu o Passarim.
A obra está implantada junto a um dos grandes igarapés de águas limpas de nossa cidade, com direito a igapó, praia de areia branca, palmeiras nativas e até tucanos. Os troncos malhados das árvores, com seus estranhos desenhos, criam palhetas de cor e texturas únicas.
“A Mata, o igarapé, o relevo levemente acidentado, o chão de folhas, o solo arenoso, os sons da floresta, a casa , seus troncos de madeira, o piso de pedra natural, a água da piscina , o jardim de plantas colhidas da mata, enfim, tudo isso faz parte de um microcosmo onde Homem, Arquitetura e Natureza se colocam lado a lado sem hegemonias.” -explica Roberto Moita.- “É como uma prova de que podemos ser mais respeitosos com o nosso frágil planeta e em particular com as belas paisagens deste mundo Amazônico. Uma prova de que nossa cidade se desenvolve desperdiçando um legado de águas e floresta sem igual no planeta. Longe dos clichês, onde a preservação se dá pela intocabilidade, esta obra propõe a convivência harmoniosa entre a Arquitetura e a Natureza como paradigma para um novo habitat propriamente amazônico.”
Refúgio do arquiteto, onde costuma se recolher com amigos, a casa insinua-se no espaço, misturando-se, harmoniosamente, com a mata e o rio. O que chama mais a atenção é sua leveza, flutuando entre a copa das árvores. Ele pousa no terreno, mistura-se com ele. Esteja-se onde se estiver, na cozinha, na sala, quarto ou varanda, a paisagem é sempre elemento presente e participante. O interessante é que essa paisagem é mutável. Durante a cheia do rio as árvores, semi-submersas e misteriosas, induzem à contemplação, e quando da vazante as areias brancas surgem cintilando e a vontade é espraiar-se ao sol.
Fugindo do óbvio, que seria um projeto campestre, e usando de materiais modernos, como o vidro e o aço, mesclados com concreto, pedra e madeira, a casa repousa sobre pilotis, escancarando-se toda para o igarapé. Na verdade trata-se de um exercício da linguagem arquitetônica inserida à situação de Manaus, uma cidade tanto industrial como florestal. Moita tratou com cuidado essa ambivalência, criando um contexto que revela um caminho para a urbanidade amazônica.
A casa distribui-se em dois pisos. O superior recolhido e íntimo, o térreo para receber amigos. Ali uma varanda ampla toma todo o espaço. Em uma ponta uma cozinha aberta, entrada de banheiro e despensa, na outra redes compondo a sala de estar, e a piscina pequena debruçada sobre as árvores.
A casa é sempre um retrato de quem mora nela. E nesse sítio isso nunca foi tão verdadeiro.

Antonio Roberto Moita, 42 anos, natural de Fortaleza, Ceará. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Ceará (1987). Estabelecido em Manaus desde 1988. Foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Amazonas- (1992-1993 ). É conselheiro do Conselho Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil. Dentre os vários prêmios destaca-se o Quarto Premio de Jovens Arquitetos, promovido pelo Museu da Casa Brasileira, com o projeto do Parque do Mindú. Publicados nas principais revistas do país como: Arquitetura e Urbanismo ( AU ), Revista Projeto, Arquitetura e Construção, Viver Bem, etc. O sitio Passarim é foto da capa da edição de julho- agosto de 2005 da revista francesa, L’Architecture d’Aujourd’hui, uma das três maiores e melhores revistas de arquitetura do mundo.
Considerado uma das revelações entre os jovens arquitetos da América Latina, foi convidado a representar o Brasil na IV Bienal Ibero-Americana de Arquitetura - Lima 2004, ( organizada pelo Ministério de Habitação e Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha, Conselho Superior de Faculdades de Arquitetura da Espanha, e Federação Panamericana das Associações de Arquitetos- F.P.A.A.). Convidado, também, pelo Ministério da Cultura do Brasil a participar da Exposição "Encore Moderne? Architecture Contemporaine au Brésil", que se realiza em Paris de 11 de outubro de 2005 a 15 de janeiro de 2006, (promovida pelos Ministérios da Cultura do Brasil e da França na Cité de L' architecture et du patrimoine Palis de La Porte Dorée). Com o obra do Sítio Passarim, Roberto Moita, assim como Milton Hatoun, Tiago de Melo, e alguns outros, leva o nome de Manaus para a Europa, não como uma cidade perdida na floresta, mas sim como um promissor pólo cultural, dinâmico e criativo.
Projetos Principais: Parque do Mindú, Millenium Center, Edifício Atrium, diversos edifícios residenciais entre eles Farol da Ponta Negra, Cristal , Altos da Recife, Varandas do Rio Negro entre outros.
Edição 15 de outubro de 2005 - Correio Amazonense.